Eu não sou originalmente da área da educação.
Eu sou formado em Administração pela PUC-Rio. Tenho um MBA em Marketing pela FGV. Mas como fui parar no ramo da Educação? Não vem ao caso. Mas para quem se interessar, podem ler meu outro Substack, o
.A questão é que não sou originalmente deste ramo. Fui cair nele meio que de paraquedas enquanto eu estudava para um concurso público.
Introdução
Entrei na minha primeira escola cheio de mim mesmo. Eu achava que, por ser fluente igual nativo em inglês, que ia ser mole ensinar. Estudei bastante Piaget e fiz o treinamento da escola. Achava que seria o suficiente. Aí entrei em sala. Apenas anos depois é que fui entender que eu sofria do efeito Dunning-Kruger, que nos mostra como indivíduos com conhecimento limitado tendem a superestimar suas competências.
Rapidamente baixei minha bola. Entendi que nada sabía sobre dar aulas, sobre as regras gramaticais do inglês, sobre a mente das crianças e como elas aprendem. Isso ficou comigo muito tempo. Quando comecei na Cultura Inglesa, dois anos depois da minha primeira experiência dentro de uma sala de aula como professor, passei a sofrer de síndrome do impostor, na qual a gente sente que nosso sucesso é fruto de sorte ou de engano, mesmo diante de resultados positivos.
É comum encontrar esses dois fenômenos psicológicos que, embora distintos, se complementam e impactam a dinâmica de ensino e aprendizagem. Esses dois efeitos, o efeito Dunning-Kruger e a síndrome do impostor, podem criar barreiras – por um lado, a insegurança e a autocrítica excessiva, e por outro, a arrogância ou a falta de consciência sobre as próprias limitações.
Síndrome do Impostor na Educação
O que é?
A síndrome do impostor acontece quando pessoas, mesmo com conquistas e reconhecimentos, se sentem como fraudes, com medo constante de serem "descobertas". Até hoje, ao escrever aqui, me sinto assim. Mas essa sensação é, aparentemente, bastante comum entre professores que, mesmo dominando o conteúdo, questionam sua competência e morrem de medo de não estar à altura das expectativas dos alunos, colegas e chefes. Agora, é interessante que os alunos também podem vivenciar esse sentimento, duvidando de suas capacidades mesmo quando apresentam desempenho satisfatório.
Impactos para professores e alunos:
Para os professores: a síndrome pode levar à autocrítica exagerada, insegurança para inovar e dificuldade em aceitar elogios ou feedbacks positivos, como é o meu caso.
Para os alunos: pode se traduzir em ansiedade, medo de errar e, até mesmo em desmotivação para buscar ajuda ou aprofundar os estudos, por acreditarem que não pertencem ao ambiente de alta performance. Vejo muito isso com alunos de preparatório para os exames de proficiência de Cambridge.
Estudos, como o artigo “A síndrome do impostor: um olhar para a saúde mental de professores”, apontam que esse sentimento está ligado a um sofrimento emocional que pode afetar tanto a autoimagem quanto o desempenho acadêmico e profissional.
O Efeito Dunning-Kruger e Seu Gráfico
Conceito:
O efeito Dunning-Kruger descreve o viés cognitivo onde indivíduos com menor conhecimento ou habilidades em determinada área tendem a superestimar suas competências. Isso acontece porque, para reconhecer a própria limitação, é necessário um mínimo de conhecimento que, justamente, essas pessoas ainda não possuem.
O Gráfico:
Normalmente, o gráfico que ilustra esse efeito tem uma curva característica, com alguns pontos marcantes:
Pico do “Monte Estúpido”: no início, ao ter um conhecimento superficial, o indivíduo se sente extremamente confiante.
Vale do Desespero: com o aprofundamento, a percepção de que há muito a aprender causa uma queda na confiança.
Monte da Iluminação: com estudo contínuo, a pessoa reconquista a confiança de forma realista, ciente das próprias limitações e potencialidades.
Platô da Sustentabilidade: o indivíduo alcança um equilíbrio entre conhecimento e autoconhecimento, onde a autoconfiança é condizente com a real competência.
Artigos de fontes diversas, como os disponíveis em sites especializados e discussões no LinkedIn, por exemplo, reforçam essa ideia, destacando que o reconhecimento de nossas limitações é o primeiro passo para uma aprendizagem efetiva.
Abordagens no Treinamento de Professores e na Sala de Aula
Para Professores (no treinamento):
Feedback Construtivo: Incentivar a cultura de feedback regular pode ajudar os educadores a reconhecerem suas reais competências e identificar áreas para crescimento.
Desenvolvimento da Metacognição: Workshops e treinamentos que incentivem a reflexão sobre o próprio processo de aprendizagem e ensino podem reduzir tanto a síndrome do impostor quanto os riscos do efeito Dunning-Kruger.
Troca de Experiências: Promover grupos de discussão onde os professores compartilhem desafios e estratégias para lidar com a autocrítica pode criar um ambiente colaborativo e de apoio mútuo.
Na Sala de Aula (com alunos):
Atividades de Autoavaliação: Implementar exercícios que estimulem os alunos a refletirem sobre seus conhecimentos e limitações, promovendo uma autoavaliação honesta e construtiva.
Feedback Individualizado: Professores podem ajudar os alunos a entenderem onde estão acertando e onde precisam melhorar, evitando a superestimação ou a autodepreciação.
Criação de um Ambiente Seguro: Estimular uma cultura em que errar faz parte do aprendizado ajuda a reduzir o medo de ser "descoberto" como um impostor, incentivando os alunos a se arriscarem e aprenderem com os erros.
Conclusão
Ao abordar tanto a síndrome do impostor quanto o efeito Dunning-Kruger, professores e alunos podem trilhar um caminho de maior autoconhecimento e crescimento. Enquanto a síndrome do impostor exige o reconhecimento do próprio valor e conquistas, o efeito Dunning-Kruger ressalta a importância de uma avaliação realista das próprias habilidades. Integrar estratégias de feedback, metacognição e um ambiente de confiança é fundamental para transformar essas barreiras em oportunidades de desenvolvimento, tanto na sala de aula quanto no treinamento de professores.
Essas práticas não só fortalecem o processo de aprendizagem, mas também contribuem para a construção de uma comunidade educativa mais saudável e colaborativa.
Adorei! Não tinha feito essa relação, mas faz muito sentido.